Aquele chapéu desencadeia tanta coisa em mim. Mais que qualquer objeto,
ele tem a sua cara, ele é você. Num acordo velado nós o mantivemos lá, como um
signo maior da sua presença. Sua presença ocupa mais espaço que os móveis, as
roupas, os calçados, as panelas. Sua ausência enche a casa toda. E aquele
chapéu é você mais que tudo. Impossível olhar pra ele e não te enxergar , mão
na cintura, sempre sorrindo. Quando nos desfizemos de suas coisas o chapéu
ficou pra uma segunda leva. Nessa segunda leva, onde os objetos foram distribuídos
pros mais próximos, o chapéu ficou. Daríamos a um dos primos, poderia servir
pras pescarias. Um já tinha chapéu igual, no outro o tamanho não deu. E assim
ele foi ficando. Mesmo quando a maioria de seus objetos já
tinha ido embora, o chapéu continuou atrás da porta, como sempre esteve. Sem
combinar , arrumávamos jeito de deixá-lo conosco.Depois que mudamos pra casa
nova ele ganhou um lugar na despensa, em segundo plano mas sempre presente.
Nunca mais falamos sobre ele, sobre o destino que deveria tomar. É como se
existisse um pacto velado. O chapéu continua presente assim como você, mesmo sem
estar ao alcance da vista. Jogado meio de lado, como se você tivesse saído com
pressa e esquecido lá. E lá vai ficando. Mesmo nessa casa que você nunca morou,
não nos acostumamos a deixar de te esperar.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
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