segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Desapareceu a margarida


Minha flor predileta é a margarida. Aquela branquinha com miolo amarelo, a quintessência da simplicidade. A que sempre aparece na ficção sendo despetalada, mal-me-quer, bem-me-quer. Também gosto de gérberas e girassóis, são flores alegres, expressam dignidade. Nada contra apreciadores de plantas raras,apenas discordo que uma flor ser de difícil cultivo, uma flor é mais valiosa que outra. Prefiro margaridas à orquídeas pelos mesmos motivos que prefiro pessoas simples às que se esforçam por parecer sofisticadas. Margaridas são singelas, comuns e é justamente isso que lhe dá o tom da graça. Há pouco ganhei um pé de margarida e fui pesquisar sobre os cuidados necessários. Descobri alguns dados interessantes. O nome científico é "bellis perennis" mas é conhecida como margarida vulgar, é de fácil cultivo e aparece mesmo em lugares inesperados e aparentemente inóspitos. Vejam só: uma planta que se chama “sempre bela” ganhou a alcunha de “vulgar”. Sei bem que quem deu o nome não quis fazer uma afronta à reputação da planta (não sou louca, sei que estamos falando de um vegetal), mas vulgar é um termo associado  à coisas grosseiras, de menor valor. Fui então cuidar da minha margarida conforme as recomendações: aguava, colocava pra tomar sol e até conversava com ela (ok, talvez eu seja louca mesmo). Depois de duas semanas ela foi murchando, definhando, até que morreu. Minha incompetência foi tamanha que não soube cuidar de uma simples margarida - concluí. Depois  pensei, ao contrário do que parece, talvez a simplicidade não seja  tão fácil de cultivar. Agora enfeito a casa com gérberas que já compro cortadas, me acostumo aos poucos com a simplicidade, até estar pronta pra cultivar uma margarida.


Pra ler ouvindo "Push th' Little Daisies"- Ween

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

10 frases que nunca terei coragem de dizer (mas bem que eu queria)

• A frase cafona do seu Msn não foi escrita pelo Shakeaspeare.

• No caso se usa-se  “mas”, não “mais”.

• Na verdade não vamos marcar nada porque não somos, nunca fomos, tão amigos.

• Se estivesse de luto mesmo não estaria preocupado em atualizar Orkut, MSN, Facebook...

• Não adianta puxar conversa porque não te conheço e já estou com fones de ouvidos pra evitar chatos como você.

• “Há muito tempo atrás” é redundância.

• Não vou deixar pra amanhã o que posso fazer hoje.

• Lápis preto na marca d’água só acentua suas olheiras. Mais ainda sem corretivo.

• Vestido balonê te faz parecer grávida.

• Não, hoje eu não posso beber pois tenho que estudar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Come togheter

   Ela falava ao celular quando o viu subindo as escadas. Cumprimentaram-se com um beijo no rosto antes do café combinado. A desculpa para o encontro era uma palestra chata qualquer. Ela o convidou mesmo sem vontade nenhuma de assistir, ele fez-se de interessado e foi unicamente para vê-la. No início havia alguma timidez. Seus olhos não se cruzavam. Falaram sobre amenidades enquanto ela notava seu cabelo mais curto e ele via, não sem uma íntima inquietação, que ela usava mais maquiagem que o habitual. Talvez mais do que a ocasião pedia... Em todo caso era um sinal de que havia se preparado para vê-lo.
   A palestra discutia os mesmos velhos assuntos. Absortos, os dois comunicavam-se por bilhetes deixando roçarem os braços um no outro. Certo instante ele ia dizer-lhe o que vinha sentindo, hesitou um momento e por fim desisitiu. Ela achou por um breve momento que ele diria algo contundente, algo que ambos pressentiam mas vinham evitando falar, estava enganada. Talvez fosse sua mente fantasiando uma desejada declaração de amor ou simples manifestação de interesse que fosse, pensou ela.
   Despediram-se e foram embora, ele pensando nela e ela nele. Ambos aspiravam o amor tranqüilo e sabiam que esse era também o desejo do outro.
   Passados alguns dias tornaram a se falar. Desta vez foi ele quem iniciou a conversa. Como de praxe, iniciavam com um assunto corriqueiro, banal. Ela dedicava toda atenção a ele como se de fato fosse algo da mais extrema importância. Conversaram animadamente sobre assuntos da menor importância, de um jeito que só fazem os que escondem algo maior. Depois retomaram às usuais conversas pela Internet. A presença virtual do outro deixava ambos inquietos, mas a distância física permitia que os assuntos transcorressem sem que se percebesse qualquer segunda intenção. Pelo menos era isso que os dois fingiam.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

As curvas se acabam e na estrada de Santos eu não vou mais passar

   Quantas crises passaremos ao longo da vida? Crise de meia-idade para os homens e a menopausa para as mulheres. A adolescência com as espinhas , rebeldia e lamentações sem fim. Depois vem a faculdade... Ah, a faculdade! Um mundo novo e gigantesco, que a uns engole e a outros encanta. É a fase de “encontrar sua turma”. E daí o mundo se descortina: as aulas ,festas, as drogas, o sexo, as figuras humanas pouco ortodoxas. E amigos que dividirão com você as coisas mais urgentes da vida: sorrisos, tristezas, saudades de casa, rodas de violão, miojo, sonhos, noites em claro, alegria, cigarros, decepção, dores-de-cotovelo, provas , choro, tubão, viagens e o pouco dinheiro que se tem.
   E quando não tem pai e mãe no quarto ao lado , qual exatamente é a sua casa: o lugar onde passa 90% do seu tempo ou a casa onde viveu a vida toda, onde ainda tem brinquedos seus guardados num fundo de armário? E meio de repente você se dá conta que mal passou a fase das saudades, surgiu um novo sentido pra palavra lar, mesmo estando num lugar completamente novo. Então você muda seus conceitos, seu entendimento de mundo e do que é a sua casa. Lar não é mais a casa com família, cachorro, almoço quente na mesa e roupa passada na gaveta. Lar sequer significa uma casa, no sentido físico. Sentir-se em casa já não quer dizer se esticar no sofá e ver tv, sentir-se em casa é estar com aquelas pessoas que , a despeito de todas (e tantas) diferenças, são aquelas com as quais você se sente completamente à vontade. Daí lar passa a ser a casa do amigo que é ponto de encontro da galera, ou a cantina da faculdade, o boteco fuleiro em frente ao câmpus, a sede do diretório acadêmico.
   Quando menos esperamos estamos cercados de tipos humanos tão distintos que jamais esperaríamos conhecer, que dirá tê-los como família. Sim família. Com tudo de bom e ruim que isso possa significar, muito amor e ódio, brigas e declarações de amor. E depois de todos os altos e baixos, idas e vindas resta só quem importa de fato. O cara legal, lindo e descolado que começou a freqüentar a roda um certo tempo logo perdeu a graça. E sumiu sem que a sequer tenhamos dado a falta. A namorada antipática daquele amigo mudou de cidade pouco depois que eles terminaram. Tampouco sabemos o destino da namorada de outro amigo, aquela que era legal e logo ganhou a simpatia de todos.
   Depois de passar por todas as dúvidas e incertezas da graduação aos poucos todos vão “tomando seu rumo”, passando a assumir novos papéis. Um amigo arrumou um emprego novo e agora ganha muito dinheiro, outra casou e teve filhos, outro só casou, outro só teve filhos. Dois passaram num concurso público, um está esperando ser chamado e outro já mudou de estado. Aquele que parecia ter um futuro promissor na universidade, veja só, abriu uma lojinha de doces e está muito feliz. As noitadas de bebedeira, amanhecer fora de casa, ir pararem festas com gente estranha, tudo isso terminou. Viramos adultos! (e agora?) Agora podemos nos permitir ir a lugares mais sofisticados, mas falta tempo. E sobram dúvidas. Achamos que a vida adulta chegaria e nossas incertezas iriam embora. Mas elas só deram lugar a novas incertezas. E agora não dá pra deixar pro futuro porque estamos vivendo o futuro. Hoje já é o futuro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Homens da minha vida

      Ele sentia atração por meninas vegetarianas, daquelas que andam com saias até os pés e militam em prol de alguma causa. Um olhar que não entregava de cara a idade. Tinha mesmo um olhar estranho, por assim dizer. Apesar dos vinte e poucos anos possuía o encanto e o mistério que tem somente os homens acima dos trinta . Muitas vezes parecia um senhor septuagenário, alternando entre um adorável velhinho e um velho rabugento. E isso era uma das coisas que me encantavam nele. Apaixonei-me já durante as primeiras conversas. Em comum tínhamos o gosto por filmes e a aversão a certa escritora “moderninha”. Eu gostava do timbre da sua voz e sua escrita me transportava pra outra dimensão. Foi o que verdadeiramente me encantou , a escrita.
     Sempre tive uma queda por homens que escrevem bem... Que eu me lembre, Marcos Rey foi meu primeiro amor, paixonite púbere. Como um namorinho adolescente que encanta pelo sabor da novidade mas não tem ainda a sofisticação dos amores adultos. Paixão arrebatadora mesmo veio mais tarde com Machado de Assis. Este sim me tirou o sono por noites a fio, mudou minha cabeça e transformou-se em parâmetro para os muitos homens (e por vezes algumas mulheres) que vieram a seguir. Rubem Fonseca, Guimarães Rosa, Carlos Crummond de Andrade, J.D Salinger... A cada um deles eu me entregava de corpo e alma, a cada um eu me dediquei tanto quanto pude e, quando não era mais possível, seguia em frente não sem um certo pesar. Houveram recaídas. Uns de forma mais intensa, outros mais brandamente, foram decisivos para que me tornasse quem eu sou. Teve um de bigodes, alemão, paixão das mais violentas da vida, me fez sofrer na mesma medida em que me arrebatava. Ainda hoje busco sua companhia quando quero lembrar quem sou eu. Teve um outro, também de bigodes, esse português, que me seduzia com cada face de sua personalidade, com cada uma das tantos identidades que assumia. Afinal o que me encantava (e ainda me encanta) era sua essência, era ele mesmo, Fernando. E o que dizer da primeira experiência com uma mulher? Quando vi eu já estava enamorada, mesmo que no começo eu não a entendesse muito bem. Nem a ela nem a mim. Era bela, misteriosa e feminina. Ensinou-me que muitas vezes metáforas dizem mais que verdades. Foi com ela que aprendi a entender e apreciar as pequenas epifanias do cotidiano. Certa vez, não faz muito tempo, me encantei com um inglês descolado. Tem o humor leve que tanto aprecio e procuro nos homens. Louco por futebol, também gosta de cultura pop tanto quanto eu. É um amor atual, vez ou outra ainda temos encontros casuais.
     De todos os que passaram continuo amando todos, de formas tão distintas quantas forem as paixões... Amo as palavras dos escritores que li, até mesmo uns bastante medianos. Mesmo alguns que provocaram em mim sentimentos ambíguos. A seu modo, cada um teve papel fundamental na minha vida. Assim como os homens, escritores ou não, da vida real. Vem e vão embora modificando pouco a pouco o que sou. Mas afinal eu gosto de transformações, vivo procurando o próximo “homem da minha vida”.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sobre (re)começos

"Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça..."
                                                                                              Mario Quintana


   Resolvi começar a escrever aqui mas não sabia como começar. Então resolvi começar de qualquer jeito, sem frases de impacto ou reflexões existenciais. Porque as coisas acontecem assim mesmo, quando a gente resolve , vai lá e faz. Pelo menos pra mim planejamentos sempre estiveram fadados a serem apenas planos. Então ao invés de planejar como será, melhor começar e pronto. E assim nasce um novo espaço que a poucos vai interessar. Que sirva pra simbolizar um novo começo.
   Gosto disso, da idéia de recomeçar, da esperança que as coisas irão melhorar. Pra mim resoluções servem pra isso, pra renovar as esperanças. Então levar a cabo as resoluções talvez seja menos importante que refletir sobre elas.
   Como  falo aí do lado, tenho vergonha daquilo que escrevo assim que releio. E afirmar isso aqui pode parecer (e é) contraditório afinal, pra que publicar então? Encaremos isso como uma “resolução”. Escrever pra aprender a escrever. E também pra que isso me ajude a entender as coisas. Pra que daqui algum tempo eu possa reler o que foi escrito e perceber algum amadurecimento. Mesmo que o escrito se torne datado , mesmo que fique mais constrangedor reler à medida que o tempo passe. Mesmo que eu já não me identifique com absolutamente nada do que foi dito. E por fim, escrever pra ser lido. Porque seria hipocrisia dizer que qualquer publicação, ainda que o bilhete colado no mural do colégio, não espera leitor nenhum. É isso. No mais espero que este ano seja cheio de pequenas felicidades, de momentos inesperados e inesquecíveis.